Arquitetura paisagística – noções
Minha versão sobre essa linguagem.
Livre de qualquer escola, mas a partir de minha observação como profissional de arquitetura e como consumidor da beleza, estética (formal ou não), mas sempre de grande impacto e envolvimento.
A maior expressão na área, sem dúvida nenhuma é Burle Marx. E não só no Brasil.
Afora qualquer maneirismo ou estilo seu trabalho é de uma espontaneidade e força sem comparação. Não vejo ninguém tão fiel ao Brasil quanto ele.
Mas vamos adequar a dimensão de nosso entendimento no assunto, e teorizarmos um pouco sobre a arte de arquitetar emoldurada por um belo paisagismo. Ou a arte de trabalhar a paisagem em um projeto de arquitetura “plantado” sem nenhuma atenção previa, ao entorno, à paisagem.
Paisagismo
é uma arte que pode ir de micros espaços (um vaso), à bosques / florestas imensuráveis.
Vou me ater aos grandes espaços, onde encontramos todas as ferramentas para iniciarmos. Para quaisquer desafios a partir de então. Os grandes espaços (projetos), são encontrados em projetos institucionais. Quando particulares podemos citar fazendas e sítios que apresentam hoje boa parte dos exemplares. No mais, em sua grande maioria são projetos de menor porte, residenciais ou não.
Existe uma gama de profissionais muito competentes envolvidos com os desejos de clientes ávidos por ter um jardim p/chamar de seu (sempre brinco com a expressão, plagiando Erasmo Carlos).
Um ponto interessante em abordar, é, que encontramos o que chamo de paisagismo espontâneo. É aquele, ofertado pela natureza; sempre muito bem-vinda por facilitar a leitura pragmática em projetar. E na maioria dos casos, sua beleza, liberta de preceitos, solta e vigorosa valoriza qualquer obra arquitetônica, necessitando apenas de certos ajustes nos volumes ou ausência deles.
A existência de florestas tropicais dentro de cidades, é outro privilégio. Coisa que ainda podemos contar nas grandes capitais. Em muitos casos, a existência de tais florestas, colabora com o talento do profissional. Algumas vezes (volto a dizer), necessitando apenas a organização espacial das espécies. Proporcionado a buscada harmonia, o necessário distanciamento ou envolvimento para os resultados. A interação / integração com a obra arquitetônica.
Princípios arquitetônicos
No paisagismo aplica-se princípios arquitetônicos. Notadamente quando existem elementos macros de interferência volumétrica; como esculturas, grandes pedras, espelhos d’água. Ora tornando-se a atração principal ora apenas como coadjuvante do paisagismo em si (as duas versões são validas). A própria arquitetura em alguns casos brota do paisagismo. Como se este, tivesse sido preparado para recebê-lo. Tal a sinergia entre eles. Esse é o objetivo a se buscar.
Os espaços:
Terrenos (condomínios)
Muitas vezes se tornam inóspitos, em que se faz necessária a recuperação de sua manifestação. Eles perdem sua originalidade quando os trabalhos de terraplanagem e infraestrutura destroem a natureza preexistente. Neste caso aos profissionais cabe alguma pesquisa previa para identificar as famílias doque havia anteriormente no local. Esse é outro caso que desperta paixões nos profissionais envolvidos. As palavras aplicadas que funcionam como diretrizes de um projeto assim, são: recuperar, resgatar (correr para que não haja a extinção de espécies…), revigorar o solo. Isso vale para as espécies vegetais como também para os “habitantes originários do local” como pedras, nascentes, fauna etc.
Desértico
Minimalista ou não. Aceitar o que o próprio nome define, deverá ser neste caso a primazia do projeto. Em alguns casos podemos chegar à uma paisagem desértica e bela onde damos apenas a oportunidade para que os elementos “se mostrem” em sua forma espontânea / natural. Sem traslados. E aí estará o acolhimento, o envolvimento da obra arquitetônica com seu entorno. E tudo flui como se nenhum grão de areia tenha sido revolvido. Embora o trabalho tenha sido feito.
Penso ser essa a grande maestria do profissional, afinar uma sinfonia tão perfeita onde não apareça a mão do próprio. Mas está lá sua assinatura.
Abundante
Vejo como uma questão de foco e objetivo a ser alcançado. Mesmo não sendo uma outorga natural, em ter uma mata por perto que inspire, pode-se propor maciços de várias espécies diferentes entre suas expressões mas, que ao mesmo tempo se complementam. Assim, resultando em texturas e tonalidades sem fim. Presenteando o observador com verdadeiras obras de arte para deleite dos mesmos.
E esse tipo de proposta nos remete aos trabalhos do mestre Burle Marx. Sem nenhuma pretensão comparativa com qualquer outro profissional. Mas a maestria com que Burle Marx compunha seus trabalhos, o jogo de luz e texturas que resultam, são majestosos e fiéis representantes do que falo. Muitas vezes temos projetos algo mais “limpos”, remontando à maciços que se escalonam, movimentos de terra, criando verdadeiros bordados na terra generosa.
Jardins domados
Eu os chamo assim. São jardins inspirados nos jardins franceses / italianos… Encontramos muita topiaria, formas geométricas traçando caminhos e labirintos. Normalmente usa-se arbustos com descendência europeia, (buchinhos como a murta etc.). resultam sempre belos e organizados. E não menos paradisíacos aos olhos do observador.
A expressão cunhada neste caso, não se aplica apenas aos exemplares de inspiração europeia. Mesmo quando falamos de jardins espontâneos, tropicais, desérticos, esculturais; estaremos de certa forma “domando”. A natureza necessita de uma intima relação com quem a queira por perto. Uma relação de respeito e amor. Devemos lembrar que ela a natureza, sempre esteve aqui e que nós homens que viemos depois, é que insistimos em depredá-la. Por isso se faz mister a relação de amorosidade.
Paisagismo
não deixa de ser uma forma de colaborar com os movimentos planetários pelos quais passamos. Ao contrário doque algumas pessoas pensam preservar é a tônica dessa arte que necessita um olhar mais sério e comprometido.
[Torço para que as cidades interioranas vejam a necessidade de respeitarem a natureza com consciência e educação. Ao contrário do que vemos hoje, quando grandes latifúndios invadem tudo desmatando florestas inteiras para criação de gado e monoculturas. Mas isso é uma outra história.]
Vamos plantar?
Espero ter colaborado para quem sabe, uma pitada de clareza!
Até um próximo.